Na tarde de quarta-feira, 5 de novembro de 2025, AC Milan e FC Internazionale Milano finalizaram a compra do San Siro — o estádio que abriga o Derby della Madonnina desde 1947 — por exatos €197 milhões. O acordo, assinado às 15h UTC, ocorreu quatro dias antes do prazo crítico de 10 de novembro, quando a segunda arquibancada do estádio, construída exatamente 70 anos antes, ganharia proteção histórica e tornaria sua demolição legalmente inviável. A transação, aprovada pela prefeitura de Milão em setembro, encerra quase um século de propriedade municipal — entre 77 e 90 anos, segundo fontes divergentes — e abre caminho para o que pode ser o projeto mais ambicioso da história do futebol italiano moderno.
Um novo estádio, uma nova era
Com a posse formalizada, os dois clubes agora controlam não apenas o estádio, mas também os terrenos circundantes, num total de mais de 3 milhões de pés quadrados. A propriedade foi adquirida por meio de uma nova empresa, Stadio San Siro S.p.A., financiada por Goldman Sachs e J.P. Morgan, com apoio dos bancos italianos Banco BPM e BPER Banca. O primeiro pagamento — cerca de €73 milhões — já foi feito, e o restante será quitado em parcelas nos próximos anos.
A ideia é demoler quase todo o San Siro — inaugurado em 1926 e usado por ambos os clubes desde então — mas preservar uma seção da arquibancada superior, considerada patrimônio. No lugar, surgirá um estádio moderno de 71.500 lugares, projetado pela renomada Foster + Partners em parceria com MANICA Architecture. O novo complexo terá teto fixo, duas arquibancadas (em vez de três) e formato oval, inspirado em arenas como o Allegiant Stadium, em Las Vegas, e o Chase Center, em São Francisco — ambos projetados por MANICA.
Além do futebol: uma transformação urbana
Este não é apenas um projeto de estádio. É um plano de regeneração urbana. A área ao redor do novo estádio receberá parques, hotéis, escritórios, lojas e estacionamentos cobertos. A prefeitura de Milão vê na operação uma chance de revitalizar um bairro que, apesar de sua importância histórica, sofre com infraestrutura obsoleta desde os anos 1990 — a última grande reforma ocorreu para a Copa do Mundo de 1990. "É um novo capítulo para a cidade e para os dois clubes", afirmou o comunicado conjunto de AC Milan e Inter, destacando que o novo complexo será "um ícone arquitetônico" e um "centro de excelência esportiva e cultural".
Os donos dos clubes — RedBird Capital Partners, com sede em Nova York, e os fundos geridos por Oaktree Capital Management, em Los Angeles — não veem isso como um gasto, mas como um investimento de longo prazo. A nova arena deve aumentar a receita com ingressos, patrocínios, eventos e turismo. Ainda mais importante: ela garante que os dois clubes possam competir com os grandes da Europa, cujos estádios modernos já geram bilhões em receita anual.
Prazo apertado, mas viável
A meta é abrir o novo estádio até o início da temporada 2030-31. Se houver atrasos, o prazo final é 2032 — ano em que a Itália sediará a Euro 2032. A data é crucial. A UEFA exige que os estádios que sediarem jogos da Eurocopa estejam em conformidade com padrões rigorosos de segurança, acessibilidade e conforto — e o San Siro atual, com seus 99 anos, não atende mais. "É uma questão de sobrevivência competitiva", disse um executivo da Inter, em conversa anônima.
Curiosamente, o estádio antigo ainda terá um papel importante. Ele sediará a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2026 em Milão-Cortina, em fevereiro do próximo ano. Isso significa que, por mais que os torcedores já sonhem com o novo estádio, o San Siro clássico ainda terá um último grande momento — antes de ser substituído.
Controvérsia e investigação
Nem tudo é perfeito. O Ministério Público de Milão abriu uma investigação sobre possíveis irregularidades no processo de licitação. Um grupo concorrente alegou que não teve tempo suficiente para apresentar uma proposta, e que a prefeitura teria favorecido os clubes desde o início. Mas fontes próximas ao processo dizem que o caso é frágil — e que a compra não será bloqueada. "É um protesto tardio", comentou um advogado especializado em direito esportivo. "O processo foi transparente, com múltiplas audiências públicas. O valor foi justo."
Por que isso importa para o futebol italiano
O San Siro é mais que um estádio. É um símbolo. Um lugar onde Pelé marcou, Baggio chorou, Maldini se aposentou, Ronaldo e Ibrahimović fizeram histórias. Mas, nos últimos 30 anos, o futebol mudou. Os clubes precisam de receitas modernas, de experiências premium, de espaços que atraem não só torcedores, mas empresas, turistas e investidores. O San Siro, com seus corredores apertados, banheiros antigos e sem acesso adequado para deficientes, já não serve mais.
Este é o primeiro grande passo do futebol italiano rumo à modernização. Enquanto outros clubes, como a Juventus e a Roma, já têm novos estádios, AC Milan e Inter são os últimos grandes a entrarem nessa corrida. E agora, com o dinheiro de fundos americanos e o apoio da prefeitura, eles não só estão no jogo — estão liderando.
O que vem a seguir
Os planos de construção devem ser apresentados oficialmente até abril de 2026. A licitação das obras será aberta no segundo semestre. Se tudo correr como previsto, a demolição começará em 2027, e os primeiros pilares do novo estádio serão erguidos em 2028. Enquanto isso, os torcedores continuarão a lotar o San Siro — não só para os clássicos, mas também para a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. Depois disso, o estádio entrará em sua última fase: a despedida.
Frequently Asked Questions
Como será o novo estádio do San Siro?
O novo estádio terá 71.500 lugares, teto fixo, duas arquibancadas (em vez de três) e formato oval, projetado por Foster + Partners e MANICA Architecture. A estrutura será mais moderna, com melhores acessos, áreas premium, Wi-Fi de alta velocidade e espaços comerciais integrados. Apenas uma seção da arquibancada superior será preservada como homenagem histórica.
Quem financia a compra e a construção?
A compra foi financiada por Goldman Sachs e J.P. Morgan, com apoio dos bancos italianos Banco BPM e BPER Banca. Os clubes já pagaram €73 milhões de entrada. O restante do valor — cerca de €124 milhões — será quitado em parcelas. A construção será custeada por receitas futuras do estádio, patrocínios e investimentos da propriedade dos clubes, RedBird e Oaktree.
Por que o prazo de 10 de novembro era tão importante?
A segunda arquibancada do San Siro foi concluída em 10 de novembro de 1955. Se a compra não fosse finalizada antes de 10 de novembro de 2025, essa parte do estádio teria se tornado patrimônio histórico, impedindo legalmente sua demolição. A decisão dos clubes de fechar o negócio quatro dias antes foi uma manobra estratégica para evitar burocracias que poderiam travar o projeto por décadas.
O que acontecerá com o San Siro após a construção da nova arena?
A estrutura principal será demolido, exceto por uma seção preservada da arquibancada superior, que será integrada ao novo complexo como um memorial. O restante do terreno será transformado em espaços públicos, comerciais e de lazer. O novo estádio será o único local onde AC Milan e Inter jogarão, encerrando 78 anos de compartilhamento do velho San Siro.
O que significa isso para os torcedores?
Para os torcedores, isso significa uma experiência muito mais moderna: assentos mais confortáveis, acesso rápido, mais opções de comida e bebida, e uma atmosfera mais imersiva. Mas também significa perder um lugar caro ao coração — um estádio com alma, cheio de memórias. O novo San Siro será funcional e lucrativo, mas talvez não tenha o mesmo charme do velho e batido estádio.
O processo de licitação foi justo?
O Ministério Público de Milão investiga uma queixa de um grupo que alega não ter tido tempo para apresentar proposta. Mas especialistas dizem que o processo foi público, com editais publicados e audiências realizadas. A compra foi feita por um consórcio já estabelecido entre os clubes, e o valor de €197 milhões está dentro da média de transações semelhantes na Europa. A investigação é formal, mas não deve impedir o andamento do projeto.
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