Cometa interestelar 3I/ATLAS tem imagem recorde capturada no Chile

Uma foto incrivelmente nítida do cometa interestelar 3I/ATLAS foi divulgada ontem, revelando detalhes que prometem mudar a forma como vemos objetos que vêm de fora do Sistema Solar. A captura foi feita em 27 de agosto de 2025, durante uma ação de divulgação pública organizada pelo NOIRLab em parceria com a Universidade do Havaí. A imagem mostra uma cauda longa e uma coma brilhante, sinais claros de que o visitante interestelar está agindo de maneira muito diferente dos cometas que estudamos habitualmente.
Contexto e importância do 3I/ATLAS
Detectado pela primeira vez em julho de 2025, o 3I/ATLAS rapidamente chamou a atenção dos astrônomos porque, ao contrário de ‘Oumuamua e 2I/Borisov, ele exibe atividade cometária visível. A descoberta foi possível graças a dados do satélite TESS, que capturou um ponto de luz em movimento rápido. Para extrair o sinal fraco, a equipe usou o método "shift‑stacking", alinhando centenas de exposições curtas até que o objeto surgisse nitidamente.
Segundo o programa "Shadow the Scientists", criado para aproximar o público da ciência, a observação foi realizada no Cerro Pachón, Chile, usando o Espectrógrafo Multiobjeto Gemini (GMOS) do Gemini Observatory. O telescópio Gemini Sul, parte do Observatório Internacional Gemini, pertence ao NOIRLab e está localizado a mais de 2.700 metros de altitude, onde a atmosfera é excepcionalmente clara.
Detalhes da captura de 27 de agosto de 2025
- Data da observação: 27/08/2025
- Local: Telescópio Gemini Sul, Cerro Pachón, Chile
- Instrumento: GMOS (Espectrógrafo Multiobjeto)
- Comprimento da cauda: cerca de 1/120 de grau
- Aumento de brilho entre maio e junho: fator 5
O que mais surpreende é a intensidade da polarização negativa medida na luz refletida pela poeira ao redor do núcleo. Este sinal, extremamente profundo e estreito, nunca havia sido registrado em cometas do nosso Sistema Solar. A equipe liderada por Karen Meech, astrônoma do Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí descreveu o achado como "um comportamento sem precedentes".
Reações e análises dos cientistas
Além do Gemini Sul, o 3I/ATLAS recebeu atenção de outros gigantes da astronomia. Em 21 de julho, o Hubble Space Telescope focou sua câmera WFC3 e registrou um núcleo com formato peculiar, sugerindo uma superfície irregular. Pouco depois, no dia 6 de agosto, o James Webb Space Telescope utilizou o espectrógrafo NIRSpec para analisar a luz infravermelha, identificando sinais de dióxido de carbono (CO₂) e, possivelmente, metano (CH₄). Entre 7 e 15 de agosto, o recém‑lançado observatório SPHEREx coletou espectros complementares, permitindo rastrear a evolução da atividade cometária ao longo de dias.
Os pesquisadores atribuem o abrupto aumento de brilho a sublimação de materiais hipervoláteis, como o CO₂, que evapora a temperaturas muito mais baixas que a água gelada. "É como se o cometa estivesse soltando um vapor de gelo seco, criando uma névoa enorme ao redor do núcleo", explica Meech. Essa hipótese se encaixa nos modelos de corpos gelados que habitam as regiões externas do Sistema Solar, como os objetos transnetunianos (TNOs) e os centauros.
Impacto nas teorias sobre objetos interestelares
Até agora, os poucos interstelares observados mostraram comportamentos bem distintos: ‘Oumuamua parecia inerte, enquanto 2I/Borisov comportava‑se como um cometa tradicional. O 3I/ATLAS, porém, combina características de ambos e ainda adiciona a estranha assinatura de polarização negativa. "Se confirmarmos que essa assinatura está ligada à composição da poeira, poderemos ter uma nova ferramenta para classificar objetos vindos de outras estrelas", comenta o astrofísico da ESA, Dr. Luca Bianchi, que acompanhou os dados do JWST.
Essa descoberta também levanta questões sobre a formação desses corpos. Alguns modelos sugerem que objetos que nascem em discos protoplanetários turbulentos podem adquirir camadas externas de gelo volátil, que permanecem preservadas ao viajar pelo espaço interestelar. O 3I/ATLAS poderia ser um exemplo vivo desse cenário.
Próximas observações e o futuro do programa
O cometa deve alcançar o periélio, seu ponto mais próximo do Sol, em 29 de outubro de 2025. Depois disso, ele se esconderá atrás do Sol a partir de novembro, tornando a observação direta impossível até que ressalte novamente no outro lado da órbita. Nesse intervalo, o Gemini Observatory planeja uma segunda rodada de imagens — desta vez com o Gemini Norte, localizado nas ilhas do Havaí, onde a mesma equipe de divulgação do "Shadow the Scientists" pretende envolver o público.
Enquanto isso, os dados já coletados serão analisados por equipes de todo o mundo. Espera‑se que a combinação de espectros ópticos, infravermelhos e de polarização gere um atlas de referência para futuros visitantes interestelares. "É como abrir um livro que até então estava fechado", conclui Meech.
Perguntas Frequentes
Como o 3I/ATLAS difere dos cometas do Sistema Solar?
Além da forte polarização negativa, o 3I/ATLAS mostrou um aumento de brilho cinco vezes maior que o esperado apenas pela proximidade ao Sol. Isso indica sublimação de gases hipervoláteis como CO₂, um comportamento raramente observado nos cometas locais.
Qual o papel do programa "Shadow the Scientists" nessa descoberta?
O programa organizou a noite pública de observação no Gemini Sul, permitindo que o público acompanhasse em tempo real a captura da imagem. Essa iniciativa reforça a conexão entre ciência e sociedade, e ainda gera apoio para projetos futuros.
Quais telescópios estudaram o cometa e que tipos de dados foram obtidos?
O Hubble Space Telescope registrou imagens ópticas do núcleo; o James Webb Space Telescope coletou espectros infravermelhos com o NIRSpec, identificando moléculas voláteis; o SPHEREx forneceu espectros de amplo alcance que acompanhavam a evolução da atividade cometária; e o Gemini Sul produziu imagens de alta resolução da coma e da cauda.
Quando o 3I/ATLAS será observado novamente?
O cometa desaparece da vista terrestre em meados de novembro de 2025, ao passar por trás do Sol. Ele deve reaparecer no final de 2025, quando o Gemini Norte programará novas sessões de observação.
O que os cientistas esperam aprender com essa observação?
Os pesquisadores buscam entender se a polarização negativa única está ligada à composição da poeira ou à estrutura do núcleo. Isso pode definir uma nova classe de objetos interestelares e melhorar nossos modelos de formação de sistemas planetários.
1 Comentários
Leila Oliveira
Parabéns a todos os envolvidos na captura desse cometa tão singular! A clareza da imagem nos oferece uma janela rara para estudar processos que antes eram apenas teóricos. É inspirador ver como a colaboração internacional pode gerar resultados tão concretos para a comunidade científica e o público. Que essa iniciativa incentive ainda mais projetos de divulgação como o “Shadow the Scientists”.