TH Joias e 17 são indiciados por ligação com Comando Vermelho e lavagem de dinheiro no RJ

dez 8, 2025

TH Joias e 17 são indiciados por ligação com Comando Vermelho e lavagem de dinheiro no RJ

TH Joias e 17 são indiciados por ligação com Comando Vermelho e lavagem de dinheiro no RJ

Na quarta-feira, 12 de novembro de 2025, a Polícia Federal do Rio de Janeiro indiciou o ex-deputado estadual Thiego Raimundo de Oliveira Santos, conhecido como TH Joias, e mais 17 pessoas por integrar uma organização criminosa armada ligada ao Comando Vermelho. Os crimes incluem tráfico internacional de armas, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, contrabando e evasão de divisas — todos vinculados a uma rede que operava dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O indiciamento foi encaminhado ao desembargador Macário Ramos Júdice Neto, da 1ª Seção Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, que abrange o Rio e o Espírito Santo.

Do ouro das celebridades à prisão por facção

Antes de entrar na política, TH Joias era conhecido no circuito de luxo do Rio por fabricar joias de ouro e diamantes para nomes como Neymar, Vini Jr. e Ludmilla. Suas peças, muitas vezes cravejadas de pedras preciosas, viraram símbolo de ostentação. Mas por trás da imagem de empreendedor de sucesso, escondia-se uma operação mais sombria: financiamento de facções criminosas. Em 2017 e 2018, já havia sido preso por suspeita de atividades ilícitas — algo que, na época, passou quase despercebido. Em 2022, ele foi eleito deputado com 15.105 votos, usando a popularidade das joias para construir uma imagem de “homem do povo”.

A Operação Zargun e a queda de um político

A virada veio em 3 de setembro de 2025, durante a Operação ZargunBarra da Tijuca. A ação conjunta da PF e do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) prendeu TH Joias em um condomínio de luxo, onde foram encontrados freezers cheios de picanha — e, segundo a investigação, dinheiro sujo escondido em embalagens de carne. O mesmo dia marcou sua destituição da Alerj. A operação desmantelou uma rede que comprava fuzis no Paraguai, vendia equipamentos antidrones a criminosos e lavava milhões por meio de empresas fantasmas.

Assessor, elo e o presidente da Alerj que avisou

Entre os 17 indiciados está Dudu (Luiz Eduardo Cunha Gonçalves), ex-assessor de TH Joias, acusado de vender aparelhos antidrones usados por facções para bloquear rastreamento policial. Outro nome-chave é Gabriel Dias de Oliveira, o “Índio do Lixão”, morador de Duque de Caxias, que atuava como ponte entre o Comando Vermelho e o político. Mas o mais impactante foi o envolvimento de Rodrigo Bacellar, presidente da Alerj.

Em depoimento, Bacellar disse, inicialmente: “Nunca, nunca o tinha visto na vida”. Mas as câmeras de segurança mostraram o contrário. Na véspera da operação, ele recebeu mensagens de TH Joias com vídeos de carne e piadas sobre “roubar a carne” — o contato salvo como “Predestinado”. Imagens mostram um caminhão de mudança saindo da casa de TH Joias horas antes da prisão, levando documentos e equipamentos. A PF concluiu que Bacellar avisou o ex-deputado sobre a operação. Em resposta, o ministro Alexandre de Moraes ordenou sua prisão preventiva por crime de vazamento de informações sigilosas.

Partido corta laços e justiça avança

Partido corta laços e justiça avança

O MDB (Movimento Democrático Brasileiro) anunciou a expulsão imediata de TH Joias, alegando que ele “não seguia a orientação partidária”. O partido disse que suas votações e posicionamentos já haviam se afastado da linha institucional. Enquanto isso, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alerj se reúne em sessão secreta na sexta-feira, 14 de novembro, para decidir se mantém ou não a prisão de Bacellar — um sinal de que a investigação pode atingir ainda mais altos escalões.

O que isso muda no Rio?

Esta não é apenas uma história de corrupção. É o retrato de como facções criminosas se infiltram no poder público. TH Joias não era um “político corrupto comum”. Ele era um elo entre o mundo das joias, o mundo da política e o mundo das favelas. Seu caso mostra que o financiamento de grupos armados não vem só de contrabando ou extorsão — vem também de empresas legais, de contas bancárias e, agora, de gabinetes de deputados.

A PF já coletou mais de 120 mil mensagens, 47 contas bancárias e documentos que ligam TH Joias a transferências de R$ 8,7 milhões para contas no exterior. O Ministério Público Federal ainda não decidiu se o tornará réu, mas o relatório da PF é considerado “esmagador” por fontes internas. O caso pode ser o primeiro em que um presidente da Alerj é preso por auxiliar uma facção criminosa.

Próximos passos

Próximos passos

Enquanto a CCJ decide sobre Bacellar, a PF aguarda a autorização do MPF para formalizar a acusação contra TH Joias. Ainda há 15 indiciados em liberdade, alguns com mandados de prisão pendentes. A operação não terminou. Ainda há investigações em andamento sobre empresas de joalheria usadas como frentes, e sobre outros deputados que teriam contato com os mesmos operadores.

Quem é TH Joias, afinal?

Ele se apresentava como defensor da educação infantil e da terceira idade. Apresentou projetos sobre empregos e acessibilidade. Mas a Justiça agora vê outra face: um homem que usou o cargo para proteger uma rede de armas e drogas. O que começou como joias de luxo virou um caso que abala a credibilidade da política fluminense — e pode servir de precedente para outras investigações no país.

Frequently Asked Questions

Como TH Joias conseguiu ser eleito deputado se já tinha passagem pela polícia?

Apesar de já ter sido preso em 2017 e 2018 por suspeitas de atividades ilegais, TH Joias não foi condenado e, portanto, não tinha registro de condenação penal, o que lhe permitia concorrer. Sua imagem de empreendedor de joias e sua forte presença nas redes sociais ajudaram a construir uma marca de sucesso popular, o que atraiu eleitores que desconheciam seu passado mais sombrio.

Por que o presidente da Alerj foi preso e não apenas afastado?

Rodrigo Bacellar foi preso porque a Polícia Federal comprovou que ele, como presidente da Casa, acessou informações sigilosas da operação e as repassou a TH Joias, permitindo a destruição de provas. Isso configura crime de obstrução de justiça e vazamento de dados de investigação — punido com até 8 anos de prisão, segundo o Código Penal brasileiro.

Qual o papel do Comando Vermelho nesse esquema?

O Comando Vermelho usava TH Joias como um canal de entrada na política e no mundo legal. Ele financiava a compra de armas no Paraguai, lavava dinheiro por meio de empresas de joalheria e garantia proteção institucional. O grupo, que controla grande parte do tráfico no Rio, precisava de aliados dentro do poder para evitar operações e manter sua estrutura.

O que acontece agora com as propostas de TH Joias na Alerj?

Todas as propostas apresentadas por TH Joias foram arquivadas automaticamente após sua destituição. A Alerj não vai analisá-las, mesmo que tenham sido bem-intencionadas. O foco agora é investigar se esses projetos eram apenas fachada para ganhar apoio popular, ou se havia contrapartidas ilegais por trás de sua apresentação.

Há risco de outros deputados serem investigados?

Sim. A PF já identificou pelo menos três outros deputados que tiveram contato com Dudu ou com contas ligadas a TH Joias. As investigações estão em andamento, e a Procuradoria-Geral da República pode pedir a abertura de inquéritos. O caso pode se expandir como uma rede, e não apenas um indivíduo isolado.

O que isso significa para o futuro da política no Rio?

Este caso mostra que a fronteira entre política e crime organizado está cada vez mais tênue. A população pode perder a confiança, mas também pode exigir mais transparência. A resposta do Judiciário — prisões rápidas, investigações profundas — pode ser um sinal de que o sistema está começando a agir. O desafio agora é manter esse ritmo.

Escreva um comentário