Tremembé: A série que virou fenômeno no Prime Video e divide críticos e presos

nov 5, 2025

Tremembé: A série que virou fenômeno no Prime Video e divide críticos e presos

Tremembé: A série que virou fenômeno no Prime Video e divide críticos e presos

A série Tremembé não só bateu recorde de audiência no Prime Video — tornou-se a mais assistida da história da plataforma — como também acendeu um debate nacional sobre o que é real, o que é exagero e o que simplesmente não deveria ter sido contado. Lançada em 31 de outubro de 2025, a produção da Paranoid para o Amazon MGM Studios atraiu mais de 12 milhões de visualizações em menos de cinco dias, segundo dados divulgados pelo O Tempo em 5 de novembro. Cinco episódios, 45 minutos cada, e uma prisão que virou personagem: o Complexo Penitenciário de Tremembé, no interior de São Paulo, conhecido como "o presídio dos famosos" por abrigar criminosos cujos nomes ainda ecoam nas manchetes.

Entre verdade e ficção: o que a série realmente retrata

A série se baseia nos livros Suzane: Assassina e Manipuladora (2020) e Elize Matsunaga: A Mulher que Esquartejou o Marido (2021), ambos do jornalista Ulisses Campbell. Mas não é um documentário. É um drama psicológico que se esquece de perguntar por que as pessoas viraram monstros — e se concentra apenas em como elas agem como tais. Elementos reais são fiéis: a transferência de Suzane von Richthofen para Tremembé após uma rebelião em 2020, seu namoro com Rogério Olberg (interpretado por Vinícius de Oliveira), seu trabalho na costura da prisão, a conversão ao evangelicalismo e até a tentativa do médico Roger Abdelmassih de fingir doença para ser transferido. A entrevista de Gugu (interpretado por Paulinho Vilhena) com Suzane, que ocorreu em 2018, também foi reproduzida com fidelidade — até os silêncios desconfortáveis.

Porém, o que a série omite é tão importante quanto o que mostra. Não há espaço para a dor das famílias das vítimas. Não há sequer um olhar para o sistema prisional que falhou. Apenas os crimes, os rostos, os olhares. E isso, segundo críticos, é o problema.

As vozes que não calaram: presos, críticos e familiares

Enquanto o público se encantava com as cenas de tensão entre Suzane e Elize Matsunaga (interpretada por Bianca Comparato), Cristian Cravinhos, condenado junto com Suzane pelo assassinato dos pais Richthofen em 2002, publicou um vídeo em redes sociais: "Eles me transformaram num psicopata sem motivo. Eu não sou assim. Eles não sabem quem eu sou." Ele foi retratado na série como um homem violento e impulsivo — mas na realidade, segundo documentos do processo, ele foi mais um cúmplice manipulado do que um líder.

Do outro lado, o crítico Polzonoff, da Gazeta do Povo, escreveu uma crítica que virou viral: "Tremembé conta essas histórias sem nenhuma preocupação em acrescentar qualquer camada de reflexão à narrativa. Nada. Zero. Não tem busca por redenção, não tem nem um fiapo de arrependimento." Para ele, a série é um "espetáculo de voyeurismo", onde a direção de arte e as atuações — mesmo as fortes de Marina Ruy Barbosa — servem apenas para imitar, não interpretar.

Na prisão, a reação foi mais complexa. Funcionários relataram que alguns detentos pediram para ver os episódios. "Eles se reconhecem. Não gostam, mas se reconhecem", disse um agente penitenciário à Omelete. Alguns até pediram para serem incluídos em futuras temporadas — como se a série fosse um espelho distorcido da própria vida.

O que a série esconde: a realidade de Tremembé hoje

Enquanto a série retrata Suzane como uma presa modelo, a realidade é mais cinzenta. Ela foi liberada em 2023, após 21 anos de prisão, e desde então vive em São Paulo com o marido e o filho, nascido em janeiro de 2024. Fotos dela entrando na faculdade de Direito circulam nas redes — sem comentários oficiais do Ministério da Justiça. O mesmo não ocorre com Roger Abdelmassih e Lindemberg Alves, que ainda estão encarcerados, sem previsão de liberdade. E o casal Cravinhos? Daniel Cravinhos, que na série se casa com Celina (inspirado em Alyne Bento), segue preso. Seu processo de liberdade condicional foi negado em 2024, por decisão da Justiça.

A série também não conta que, em 2024, o Complexo Penitenciário de Tremembé registrou o maior índice de suicídios entre presos do estado de São Paulo — 17 casos em 10 meses. Ninguém fala disso. A câmera só passa pelos corredores onde Suzane costura, não pelos quebrados onde outros se perdem.

Uma segunda temporada? O futuro da série e do presídio

Uma segunda temporada? O futuro da série e do presídio

O Prime Video ainda não confirmou oficialmente a renovação de Tremembé para uma segunda temporada. Mas os indícios são fortes. A penitenciária abriga mais de 60 casos de crimes notórios que nunca foram explorados: o assassinato da família Nardoni, o caso da mulher que envenenou a sogra com vinho, o ex-policial que matou a filha e depois se entregou à polícia cantando o hino nacional. Cada um deles é uma história pronta para ser contada — e cada uma delas pode ser uma temporada independente.

Isso, no entanto, levanta uma pergunta incômoda: estamos assistindo a dramas ou a uma nova forma de entretenimento baseado no sofrimento alheio? A série não responde. E talvez seja esse o seu maior sucesso — e seu maior fracasso.

Frequently Asked Questions

Suzane von Richthofen está realmente livre? Como ela vive hoje?

Sim, Suzane von Richthofen foi liberada em 2023, após cumprir 21 anos de prisão. Atualmente, vive em São Paulo com o marido, Rogério Olberg, e o filho, nascido em janeiro de 2024. Fotos dela em aulas de Direito na Universidade de São Paulo circulam nas redes sociais, mas ela não faz declarações públicas. O Ministério da Justiça não divulga detalhes sobre sua liberdade condicional.

A série Tremembé é fiel aos fatos reais?

Muitos elementos são baseados em depoimentos reais e processos judiciais, como o romance entre Suzane e Rogério, a entrevista de Gugu e o trabalho na costura. Porém, a série dramatiza, omite contextos e simplifica motivações. A consultoria jurídica garantiu que os nomes e datas estivessem corretos — mas não que a narrativa fosse justa ou completa.

Por que Cristian Cravinhos criticou a série?

Cristian alega que foi retratado como um agressor psicopata, quando, segundo o processo, foi manipulado por Suzane e seu irmão. Ele diz que a série ignora seu arrependimento e a pressão psicológica que sofreu. Em vídeo, ele pede que o público veja além da imagem de "monstro" que a mídia construiu.

Qual é o impacto da série na percepção pública sobre o sistema prisional?

A série reforça a ideia de que o presídio é um palco para crimes sensacionalistas, não um sistema de reabilitação. Especialistas em direitos humanos alertam que esse retrato desumaniza os detentos e desvia o foco das falhas estruturais: superlotação, falta de educação e saúde mental. A audiência se emociona com os crimes, mas ignora quem paga o preço real: os guardas, os familiares e os que nunca foram julgados.

Há chances de uma segunda temporada?

Ainda não foi confirmada, mas há material suficiente para pelo menos três temporadas. Casos como os Nardoni, a mulher que matou o marido com vinho e o ex-policial que se entregou cantando o hino nacional são histórias prontas. O formato da série — episódios independentes — facilita essa expansão. Mas a pergunta que fica é: o público quer entender, ou só quer ver mais sangue?

Por que a crítica diz que a série não tem ambição estética?

O crítico Polzonoff argumenta que a série replica cenas de processos e programas de TV sem tentar transformá-las em arte. Não há simbolismo, metáforas ou questionamentos. É um retrato fotográfico — e, para ele, isso é pior do que a ficção. Quando a realidade é mostrada sem reflexão, ela vira espetáculo. E espetáculo não transforma. Só vende.

11 Comentários

Francini Rodríguez Hernández
Francini Rodríguez Hernández
novembro 5, 2025

mano essa série é tipo um reality show mas com preso mesmo, eu vi e fiquei tipo ué mas isso é real? tipo, sério que eles fizeram isso tudo? e ainda por cima a gente paga pra ver? kkkk

Manuel Silva
Manuel Silva
novembro 5, 2025

acho que a série tá mais preocupada em vender drama do que entender o sistema. tipo, mostra a Suzane costurando e tudo, mas nem uma cena do presídio inteiro quebrado, dos preso que tá morrendo de fome, dos guarda que tá sobrecarregado... isso é só entretenimento com cara de documentário. e isso é perigoso.

Flávia Martins
Flávia Martins
novembro 7, 2025

sera que a gente ta vendo um drama ou um show de horrores? pq se é drama tem que ter reflexão, se é show de horrores... então por que não colocar um ingresso e um pipoca?

José Vitor Juninho
José Vitor Juninho
novembro 9, 2025

eu li o livro do Ulisses Campbell e a série pega só os momentos mais sensacionalistas... mas esquece que o Cristian tinha 17 anos quando tudo aconteceu, que ele foi manipulado, que ele chorou no tribunal... a série não mostra isso. e isso dói. porque a gente vira juiz sem saber de nada.

Maria Luiza Luiza
Maria Luiza Luiza
novembro 10, 2025

ah sim, claro, porque o povo tá pedindo por um documentário sobre prisão... não, o povo tá pedindo por mais Suzane chorando, mais Elize rindo, mais cena de faca. isso é o que vende. e se você não curte, é porque é chato demais pra viver no mundo real.

Sayure D. Santos
Sayure D. Santos
novembro 12, 2025

a série não precisa ser justa pra ser boa, mas precisa ser honesta. ela é honesta em mostrar o que aconteceu, mas não em mostrar o que não foi dito. e isso é o pior tipo de mentira: a que usa fatos reais pra esconder verdades maiores.

Gustavo Junior
Gustavo Junior
novembro 13, 2025

essa série é o ápice da decadência cultural brasileira. transformar crimes reais em entretenimento... é como se a gente tivesse virado uma sociedade de voyeuristas que só quer ver sangue com boa iluminação. e os produtores? estão rindo no banco dos réus.

Henrique Seganfredo
Henrique Seganfredo
novembro 14, 2025

Brasil não tem cultura. Só tem sensacionalismo. E essa série é o exemplo perfeito.

Marcus Souza
Marcus Souza
novembro 15, 2025

eu moro no interior de SP e todo mundo fala da série. até os preso daqui pediram pra ver. não é só sobre os crimes... é sobre como a gente se vê nisso. se a gente é só espectador ou se a gente tem culpa também. não é fácil, mas é importante.

Leandro Moreira
Leandro Moreira
novembro 17, 2025

eu vi a série em um dia. não consigo parar de pensar. o que eu faria se fosse um preso? e se fosse um guarda? e se fosse um parente da vítima? isso não é ficção. é a nossa realidade. e ninguém quer olhar.

Geovana M.
Geovana M.
novembro 18, 2025

ah sim, claro, porque a gente precisa de mais uma série sobre mulher que matou marido. já viu 2000 dessas. e agora a gente tá aqui discutindo se é real ou não? sério?

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