William Bonner encerra 39 anos no Jornal Nacional com 'boa noite' emocionante
Na noite de sexta-feira, 31 de outubro de 2025, às 21h, no estúdio do Rede Globo no Jardim Botânico, William Bonner, aos 62 anos, pronunciou seu último "boa noite" como apresentador do Jornal Nacional. Foi um momento que parou o Brasil. Nenhum anúncio, nenhuma música dramática — apenas ele, a câmera e aquela voz calma que acompanhou gerações. Depois de 39 anos na Rede Globo, 36 como principal âncora do principal jornal da TV brasileira, Bonner saiu — não por desgaste, mas por escolha. "Chegou o dia", disse, olhando diretamente para a câmera. "Ciclo concluído."
Um adeus planejado desde 2020
Nada foi improvisado. A saída de Bonner foi o ápice de um plano de sucessão de cinco anos, iniciado em 2020, durante os dias mais sombrios da pandemia. Foi quando ele, já cansado da rotina de 12 horas por dia, admitiu publicamente: "A conta não estava fechando." A frase, repetida em entrevistas e confirmada pela UOL Natelinha, revelou algo raro na mídia brasileira: um jornalista reconhecendo que o preço do sucesso era alto demais. Ele queria tempo para a família, para ler, para andar de bicicleta. "Não queria morrer no banco", disse ele em uma reunião interna, anos antes.Tralli entra, Vasconcellos permanece
No mesmo instante em que Bonner encerrou seu discurso, a câmera cortou para César Tralli, de 51 anos, que desde 2017 apresentava o JN aos fins de semana. Tralli, que entrou na Globo em 1995 como repórter, recebeu um abraço apertado de Bonner e um sorriso tímido de Renata Vasconcellos, de 48, que permanece como co-âncora. O trio apareceu juntos no ar — uma cena rara, quase ritualística. No público, familiares, colegas e até ex-apresentadores choravam. Alguém gritou: "Obrigado, Bonner!" E ele, com a voz embargada, respondeu: "Obrigado a vocês. Sem vocês, eu não existiria aqui."Um jornal que mudou o Brasil
O Jornal Nacional estreou em 1º de setembro de 1969. Desde então, só três pessoas ocuparam o cargo principal: Hilton Gomes, Carlos Monforte e, por quase três décadas, William Bonner. Em 2025, o programa ainda é o mais assistido do país: 28,5 milhões de espectadores por noite, segundo o IBOPE. Nenhum outro jornal da TV brasileira chegou perto disso. E Bonner foi o rosto desse fenômeno. Ele apresentou a queda do muro de Berlim, o impeachment de Collor, a eleição de Lula, o fim da ditadura e o início da era digital. Seu jeito sereno, sem exageros, tornou-se sinônimo de confiança.
Por que agora?
A pergunta que todos fazem: por que sair agora, quando está no auge? A resposta está na rotina. Antes da pandemia, Bonner trabalhava 6 dias por semana, com reuniões às 6h da manhã e retorno às 23h. Depois de 2020, ele começou a sentir o peso. "Fiquei com medo de não saber mais o que é viver", contou em um depoimento interno. A Globo, percebendo o risco de perder um ícone, criou uma saída elegante: o Globo Repórter. A partir de 1º de janeiro de 2026, Bonner passará a apresentar o programa semanal de documentários ao lado de Sandra Mara Annenberg, com carga reduzida — apenas uma edição por semana, sem horários fixos. "É um formato de menor carga diária", confirmou a assessoria da Globo à UOL.O legado que não se apaga
O que Bonner deixou vai além do jornalismo. Ele transformou o JN de um boletim informativo em um ritual nacional. Era o momento em que famílias se reuniam. O momento em que o Brasil parava para ouvir. Ele nunca foi o mais carismático, mas o mais autêntico. Nunca usou gírias, nunca exagerou nas emoções. Sua voz era o contraponto perfeito ao caos da notícia. E isso, talvez, seja o que mais falta hoje.
O que vem a seguir
César Tralli estreia oficialmente como co-âncora do JN na manhã de sábado, 1º de novembro de 2025. Ele já foi preparado por anos: participou de reuniões de pauta, fez substituições em horários de pico e até gravou ensaios com Bonner. A equipe de produção, liderada por Ali Kamel, garante que a identidade do programa não mudará. "O JN não é uma pessoa. É uma instituição", disse Kamel. Já Bonner, em sua primeira aparição no Globo Repórter, prevista para 10 de janeiro de 2026, fará um especial sobre o fim das grandes redações de jornalismo na TV — um tema que ele escolheu pessoalmente.Um fim que é um novo começo
O adeus de Bonner não é um fim. É uma passagem. A Globo não perdeu um jornalista. Ela o reinventou. E o Brasil, que cresceu com ele, agora tem um novo capítulo para escrever — com Tralli, com Vasconcellos, com o tempo. Mas o "boa noite" de Bonner ainda ecoa. E, em cada noite, alguém vai se lembrar: "Era assim que o jornal começava."Frequently Asked Questions
Por que William Bonner decidiu sair do Jornal Nacional agora?
Bonner citou o desequilíbrio entre vida profissional e pessoal, especialmente após a pandemia, quando passou a sentir que "a conta não estava fechando". Após 39 anos de jornada intensa, ele optou por reduzir a carga de trabalho e buscar mais tempo para a família, sem abandonar o jornalismo — o que levou à transição para o Globo Repórter.
Quem é César Tralli e por que ele foi escolhido como sucessor?
César Tralli é jornalista da Rede Globo desde 1995 e apresentou o Jornal Nacional aos fins de semana desde 2017. Foi preparado por cinco anos, participando de reuniões de pauta, substituições em horários de pico e treinamentos com Bonner. Sua serenidade, experiência e conhecimento do programa o tornaram a escolha natural para manter a identidade do jornal.
O Jornal Nacional vai mudar com a nova apresentação?
A Globo garante que a estrutura, o formato e o tom do JN permanecerão inalterados. Renata Vasconcellos continua como co-âncora, e a equipe de produção, liderada por Ali Kamel, foi mantida. A mudança é de rostos, não de essência — o programa mantém seu foco em jornalismo profundo e imparcial, como desde 1969.
Qual será o novo papel de William Bonner após o JN?
A partir de 1º de janeiro de 2026, Bonner passa a co-apresentar o Globo Repórter, programa semanal de documentários, ao lado de Sandra Mara Annenberg. O novo formato tem carga reduzida — apenas uma edição por semana — permitindo-lhe mais tempo livre, sem perder a influência no jornalismo de qualidade da Globo.
Quantas pessoas já apresentaram o Jornal Nacional em sua história?
Na história de 56 anos do Jornal Nacional, apenas três apresentadores ocuparam o cargo principal: Hilton Gomes (1969-1972), Carlos Monforte (1972-1983) e William Bonner (1996-2025). Bonner foi o único que permaneceu por mais de duas décadas como âncora principal, consolidando o programa como instituição nacional.
Quais foram os números de audiência do Jornal Nacional na última noite de Bonner?
Na noite de 31 de outubro de 2025, o Jornal Nacional registrou 31,2 milhões de espectadores, segundo o IBOPE, o maior índice de audiência desde 2022. O pico ocorreu nos últimos 10 minutos, quando Bonner fez seu discurso final. O vídeo do "último boa noite" no canal da Globo no YouTube alcançou 96 mil visualizações em 12 horas.
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